domingo, novembro 21, 2010

Joãozinho

O Joãozinho está na paragem do autocarro e esqueceu-se do iPhone em casa, então põe-se a pensar:

"Antigamente diziam que a NATO era um grupo de rapazes abrutalhados que lanchavam na casa do Jorge Buchas mas geralmente seguiam um tal de Zé.
O Zé nunca aparecia pà xinxada, porra!
Agora em Novembro vêm-me dizer que afinal o Zé tá em casa de castigo (e sem telemóvel) e quem manda é um pretinho da rua do Jorge, cromo como ele mas mais bem parecido.
Aposto que tem mais cabecinha!
A minha mana, que geralmente nem se mete nestas tretas, já me disse que esse tipo afinal de contas também tem a mania. Que fala mais baixo mas diz as mesmas coisas.
Pff daquela rua já 'tava à espera!
Os meus amigos hoje foram todos para a rua a ver se faziam a folha ao gajo... com cartazes e tudo!
Eu, por outro lado, só gostava de saber porque não boicotam a rua deles.
- Que rua?
- A rua do cabecilha.
- Mas boicotar o que?
Nem é as gomas que eles vendem pq até saco mais barato nos chineses. É mais o espectáculo que eles dão.
Epá epá, deixem-me só dar um peidinho amigável. Pronto. Se eu deixar de os ver, eles deixam de ter significado.
Os meus amigos vão perguntar pq é que já não vou ao MacDonalds ou pq é que já não ouço a Shakira. Porra. Hmmm
Já sei. Eu vou-lhes dizer que já não faço essas coisas pq comecei a gostar de mim. Sei lá, cresci rápido e só quero ser gordo e ter doenças do foro mental mais lá pá frente, quando tiver 60.
Tá feito..."

O autocarro chegou.

sábado, outubro 23, 2010

A NOÇÃO DE NÃO TER O QUE SE TEM REALMENTE NOÇÃO É A MAIS LIBERTADORA NOÇÃO QUE SE PODE REALMENTE TER.

Porque olho

Porque olho para ti e não vejo,
Sou agredido e não sinto.
Porque sussurras e não ouço
e toco mas não te palpo.

Porque a espera costuma doer.
Mas só dói quando se sente
Ou se percebe realmente.

Porque sinto mas não reajo
E não reajo porque me perco...

Demasiado nesta frase
Demasiado nesta vida!

Porque um dia tentei sonhar
era puto e não sabia
que talvez fosse mais fácil
Estar acordado e ignorar
Perder-me sem acordar

Para a vida,
e morte,
ou qualquer coisa entretanto.

Hoje em mim

Hoje fui atrás de mim
E corri, estiquei-me a ver se fugia.
Fui andando até que me perdi.

Hoje nasci, mamei, aprendi a andar
hoje fisguei, hoje bati em alguém.
Eu hoje cresci.

Corri e corri
sempre atrás de mim.

Hoje andei de bina em contra-mão,
eu hoje menti-te.

Fui andando
sempre atrás de mim.

Hoje eu corri tanto mas tanto
que me apercebi:
Quanto mais corro
mais quero parar.

Estou farto de andar para trás.

Sei sei

Porque não sou e nunca fui
pouco, ou menos do que alguma vez tentei.
Nunca me escondi do fracasso
que até sabe bem, por vezes, para entender.

Sei que não sou tudo que o meu corpo emana,
mas sou mais que o normal.

E também sei que sou especial.

Porque vejo as coisas de outros patamares
engordo, sorrio mas observo os milhafres que lá vão comer
poisar de vez em quando...

Sei que só vão de vez em quando.
Sei muita coisa...

Só não sei ser feliz!

domingo, maio 30, 2010

Vomito tristeza

...evitando a pesada realidade.

domingo, janeiro 17, 2010

Luz

Abrem-se as cortinas como num teatro e
Repele-se a claridade.
(olhos ramelosos e virar para o lado)
Voltam as ideias e criam-se as memórias.

Mas há uma luz que reflecte a tua cara...
Há beleza de milhões anos luz.

Fosse eu um pequeno feixe perdido no universo..?
(um super-feixe porque viajaria a aproximadamente 300 milhões de metros por segundo)
Viria de uma estrela qualquer, fosse ela qual fosse.

Mas sempre rumo a ti...

Quando chego já de manhã...
Todos olham, Todos vêem
O que sou e o que faço.
Só não entendem o porquê
De viajar por tanto atrito
Para te dar tamanho abraço.

Sou um pequeno feixe de luz
de um qualquer astro.
Vim-te acordar, eu sei
para te lembrar, eu sei
que és tu.
Só tu.
Tu.
.

(Sou um pequeno feixe sentido
Um pedaço deste meu mundo.
Encontro vida no reduzido...
No silêncio do meu rugido
Enquanto bato bem lá no fundo.

Vomito tristeza.)

domingo, dezembro 20, 2009

Hoje

Sabes,
houve um dia em que não soube.
Soube pouco.
Sabia há pouco!

Que noção é essa de amor
se esse não passa de uma edificação montada
pelas demais pressões ...

[vinculadas da necessidade de existir]

Uma só questão pendente.

Que dia é hoje?

sexta-feira, outubro 30, 2009

parece um feitiço
e nem é por amor.
é por obsessão.
é por habituação.

diria até que é por orgulho.

quinta-feira, junho 18, 2009

Devaneio.

Há dias que não são dias
até são anos.
Há horas que são minutos
e segundos estações inteiras.
Sentimos o frio e o calor tudo de uma só vez
sem notar o contraste e
o propósito que os fez.
Há tempos e tempo
que não sabemos explicar
e é por tal que até me atrevo
a afirmar sem hesitar...
que foi o tempo que nos fez tristes
que foi o tempo que nos fez pensar.

São temporadas de repouso
e momentos de agonia.
O tempo é só um tempo,
mas há tempos em demasia.

terça-feira, abril 07, 2009

Ou talvez não.
A falta de hábito eliminou, por fim, a vontade. O à vontade.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

De volta

Após um longo interregno eis que reapareço das cinzas.
E em bom tempo o fiz meus caros, pois só com este intervalo me apercebi que não consigo subsistir sem escrever. Eu preciso de escrever, ainda que com o decorrer dos anos vá perdendo a magia que me fez apaixonar pelas letras - a inocência.
E perguntam-me vocês, poucas almas que ainda visitam este recanto: "Que tens andado a fazer?"
Muito de algo e nada de pouco.
Conheci uma jovem donzela que conseguiu retirar esta pobre alma da inércia rotineira e geral descontentamento mundano. Uma jovem donzela cuja simplicidade me cativou e cuja alegria desferiu o golpe final na minha queda para o abismo chamado viver. Uma jovem donzela que espelhava o que eu já fui e que guardo, numa pequena caixa, para mais tarde voltar a ser. Uma jovem donzela que afinal revelou ser...
A real miragem. O verdadeiro pedaço de ficção - desilusão.
Assim que as camadas de pele caem, tal cobra estação após estação, revelam-se a falta de tolerância e banalidade de todos nós.
E seremos sempre o que fomos até então, pouco mudamos e pouco nos adaptamos se não for pela mono-sobrevivência. Do eu singular e não do Eu enquanto humanidade.
E mesmo quando o fazemos numa rara excepção à regra, temos a profunda certeza que algo de bom recairá sobre o eu, onde o instinto predomina, instinto esse que adjunto às faculdades de um ser tão capaz, é fatal. É canibal.

Devaneios à parte, estou de volta. A jovem donzela já passou, e eu? Cá estou. Firme e hirto e
menos insano.
Prometo escrever. Muita poesia...
Em breve. Muito em breve...

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Lágrimas sobre a máquina de escrever
E outras teimosias dos olhos.
Vertem em repetição num tempo só seu
Enclausurando o espaço
A energia
O ar.
O tempo lá fora parou.
Por aqui formam-se borrões em palavras gastas
Acções e reacções.
Vertem-se as gotas, turvam-se as letras e
Os pontos e todas as vírgulas da vida.

O tempo lá fora parou.

O momento é aqui nesta redoma de silêncio.
Tic tac
Parou.
O momento é aqui neste sufrágio pendente.
Tic tac
Parou.

O papel embrulha-se e foge da chuva
Sangra e desfigura-se.
E o som é tão repetitivo
Que as lágrimas não caem,
Transbordam
Em tempestade de verão.

Quando tudo pode ser bom
É o mal que me diz olá.

O tempo lá fora parou.

quarta-feira, novembro 14, 2007

O tempo já passou

Horas, minutos e até fracções.
Todos iguais
exageradamente inócuos.
Passo na rua disfarçado de um ser que não sofre,
que não vive e somente se degrada.
Vou passando ansiando diferente sorte
sem que o tempo ou suas malícias se dignem a sussurrar
enaltecendo uma qualquer sinapse que me faça sentir.

Engulo poções etilenas em porções pequenas
de antídoto para a existência.

Anos, meses e até dias
todos iguais.
Monótonos e fatais.
Incutem-me a mais decidida vontade de
esperar uma só hora para ver
e decidir...
se vale a pena ficar
ou partir.

Décadas, séculos e até milénios...
Novos universos criados.
O tempo deixou de ser meu amigo,
passei por ele e não lhe falei.
O tempo brincou comigo
e eu simplesmente parei...
e não brinquei.

sábado, junho 30, 2007

Eu...

Manter-me-ei fiel enquanto me for possível suportar a visão ao espelho.

terça-feira, junho 26, 2007

Carrossel

Foi só uma sopa primordial
A origem segundo dizem, segundo contaram.
Era o pequeno almoço de mais um dia sangrento.
O inferno resumido ao momento.

Vomitou-se o Homem
depois do seu redor - Comido e cuspido.

O corpo cresceu
A mente apodreceu
De doença, de descrença
De saudade da inocência,
De tanto seres tu ou eu
Ou ele
Ou a segunda pessoa do plural.

Os ossos quebram
A carne sangra e
A mente desfalece.
O jantar está na mesa mas alguém chora lá fora
No alpendre já demolido
Pelos rugidos de lobos intemporais, que somos
Quando já não queremos ser,
Ou andar no carrossel. Enjoa, enoja. Vomita-se o Homem.

As folhas caem no Outono
E hoje, só hoje.
Abatidos todos os seres que o destino ditou
Hoje e enquanto o destino ditar.
Amanhã são vários dias
E talvez o Outono.

As folhas vão pairar
Imóveis face ao cheiro da ditadura;
Do ter de ser, do ter de estar...
Assim.

Tudo vai permanecer
Tudo vai recomeçar.
O antes e o agora
E o depois talvez não queiram ser
Ou estar.

Foi só uma sopa primordial...

(E o resto permanece quase imóvel.
O Tempo faz-nos pequenos, ao hOMEM.)

sábado, junho 09, 2007

Morrer onde não quis ter nascido

Esta forma de estar é desconcertante.
Saberei eu o que é importante?
Viver ou guardar na memória
O calor do que já vivi?
Morrer talvez agora, só se for neste momento
neste auge do meu tormento.

Porque odeio toda a gente
quero amar quem não sei
percorra eu ruas ou galáxias seja
quem me dói ou me desdém.
Porque odeio e não suporto
nem a mim nem a ninguém.

Só eu sei o que não quero saber
Ou prolongar.
Só eu sei que o Passado me foi...
luz
Que o Passado me é
fado.

Tudo fluia e agora pergunto-me:
A que foz fui dar?
Não sei nadar nestas
Águas estagnadas saturadas
Ora quentes ora frias;
Nestes mesmos quatro cantos
Ou mar onde morro e onde não sei
ser salmão, e escapar;
Remar e remar corrente acima
E morrer onde nasci.

Deformado

Deformado
Sempre que estou
Ora assim
Ora assado.
Sempre que vou
Para outro lugar
Qualquer;
Me afasto
Do presente
Que não sente
Que só mente.

Atrasado
Inconformado.
Enfim adjectivado.
Só porque me afasto
Deste presente
Inevitavelmente apagado.

Às vezes dou por mim
Não em mim
Mas no despertar imposto
Só porque por vezes não estou
Ou não quero acordar.

Sou de carne e osso
E nunca parecendo, provido
do sentir, demasiado.

Entende?
O senhor que abana a cabeça
E finge que nao compreende.
Não entende?

Não faço questão de lho explicar
talvez com analogias do canal panda
ou uma apresentação formal com slides.
Não faço.

Incompreendido?
Talvez não.
Intolerável?
Sem dúvida. Porque não entende
Ou porque não aceita.
Olhe à volta: nem todos têm de ser imbecis.

O efeito de rotação do mundo compreende
Uns quantos milhares de quilometros.
Nunca o perimetro da chouriçada
Que abasta a sua barriga.

Reis na pança, com uma enorme capacidade de atracção
sob corpos celestes à deriva:
Este mundo;
Esta Terra em tempos nativa.

Conta-me como foi

Conta-me como foi
Antes do tempo que fez o tempo,
Este Tempo.
Conta-me o que foi
Que calou a terra e abafou o vento.
Oh tempo oh tempo, volta para trás
Para me contares tu como foi, o que foi
Que deixou as gentes (sem vontade) sem alento,
Com ansia de sofrimento e
Desdenho pelo que apraz.

A velha guarida do sol

A velha guarida do sol
Que mira paredes brancas, caiadas com vida;
A senhora de preto que aguarda o autocarro.
Vai à bica ou ao azeite
Vai por aí, cheia de calma. A viuvez só lhe trouxe o que Deus fez, diz.
Vive até não poder viver mais
E só chora pela saudade, ou pela vontade de ter ido antes;
Não pela morte e nunca pela vida.
As vinhas que podem até nem dar vinho
Dão sombra aos que brincam descalços,
E descalços por aí vão.
Monte acima monte abaixo
No verde que também dita a mente e
Os rios gelados que abraçam as gentes.
E todos os lugares distantes
onde se soube crescer
que talvez ainda existam.