sexta-feira, novembro 26, 2004

Inocencia

Já nao passo em campo verde
Já nao caminho sobre terras batidas de incerteza,
sobre caminhos sem rumo, com objectivos sem direcçao.
Já nao encaro a mudança com indiferença, sem forçar optimismo.
Já nao sou senhor de mim, e do meu casulo; quero saber, interessa-me.. destrói-me.
Nao quero saber! Nao me interessa!
Nao quero ver, perceber e assimilar!
Volta inocencia, estou farto.

Quero tocar orquideas e doer, sem saber.
Quero assistir a discussoes e rir-me do tom de voz, da exaltaçao, sem tomar atençao.
Quero morrer e voltar a ser.
Quero provar que a vida nao é sentir um gostinho do bom, e continuar por continuar, onde o combustível é a recordaçao, do que um dia foi, pois o que será pode ser bom, mas nunca tao puro!

Já nao finto para dar nas vistas
Já nao sinto somente quando realmente sinto.

Quero voltar.
Já nao volto, já nao posso.
Está longe, está atrás e afinal de contas, é-nos suposto olhar em frente.
Mas a recordaçao nao mente.
E é ela que devo desprezar, e nao a minha vida.. o que posso criar.

Foram dias de verdadeira alegria, da mais pura.
Que os miudos hoje em dia nunca vao conhecer..
Porque nao montam fisgas, "sacam" jogos.
Porque nao jogam spectrum sentados com os seus amigos (jogam online com os seus conhecidos)
Porque nao esmurraçam o parvo, ameaçam virtualmente quem pensam ser parvo.

e por tudo isto, nunca serao..
aquilo que eu queria voltar a ser.

e por tudo isto, nunca seremos..
a continuidade do que hoje somos.

Os tempos mudam, e mudarao..
E de geraçao em geraçao, poderá haver conversa
mas nunca comunicaçao.

E tudo isto, reflectindo sobre a inocencia. Sobre a minha obcessao por te-la de volta, ainda assim com a infeliz certeza que essa inocencia que eu conheci, aquela que eu possuí, jamais será sentida.
Talvez recordada e ambicionada,
como que uma geraçao reconhecendo que cresceu da melhor forma,
onde residia o mais puro do pensamento
que se foi degradando;

Corrompido pela nossa mais arisca capacidade de tornar complexo o mais simples.
Só quero olhar 'a volta,
e reconhecendo ou associando ao que nao interessa, desconhecer.
Só quero olhar 'a volta,
percorrido por aquela sensaçao miudinha, e sorrir.