sábado, junho 30, 2007

Eu...

Manter-me-ei fiel enquanto me for possível suportar a visão ao espelho.

terça-feira, junho 26, 2007

Carrossel

Foi só uma sopa primordial
A origem segundo dizem, segundo contaram.
Era o pequeno almoço de mais um dia sangrento.
O inferno resumido ao momento.

Vomitou-se o Homem
depois do seu redor - Comido e cuspido.

O corpo cresceu
A mente apodreceu
De doença, de descrença
De saudade da inocência,
De tanto seres tu ou eu
Ou ele
Ou a segunda pessoa do plural.

Os ossos quebram
A carne sangra e
A mente desfalece.
O jantar está na mesa mas alguém chora lá fora
No alpendre já demolido
Pelos rugidos de lobos intemporais, que somos
Quando já não queremos ser,
Ou andar no carrossel. Enjoa, enoja. Vomita-se o Homem.

As folhas caem no Outono
E hoje, só hoje.
Abatidos todos os seres que o destino ditou
Hoje e enquanto o destino ditar.
Amanhã são vários dias
E talvez o Outono.

As folhas vão pairar
Imóveis face ao cheiro da ditadura;
Do ter de ser, do ter de estar...
Assim.

Tudo vai permanecer
Tudo vai recomeçar.
O antes e o agora
E o depois talvez não queiram ser
Ou estar.

Foi só uma sopa primordial...

(E o resto permanece quase imóvel.
O Tempo faz-nos pequenos, ao hOMEM.)

sábado, junho 09, 2007

Morrer onde não quis ter nascido

Esta forma de estar é desconcertante.
Saberei eu o que é importante?
Viver ou guardar na memória
O calor do que já vivi?
Morrer talvez agora, só se for neste momento
neste auge do meu tormento.

Porque odeio toda a gente
quero amar quem não sei
percorra eu ruas ou galáxias seja
quem me dói ou me desdém.
Porque odeio e não suporto
nem a mim nem a ninguém.

Só eu sei o que não quero saber
Ou prolongar.
Só eu sei que o Passado me foi...
luz
Que o Passado me é
fado.

Tudo fluia e agora pergunto-me:
A que foz fui dar?
Não sei nadar nestas
Águas estagnadas saturadas
Ora quentes ora frias;
Nestes mesmos quatro cantos
Ou mar onde morro e onde não sei
ser salmão, e escapar;
Remar e remar corrente acima
E morrer onde nasci.

Deformado

Deformado
Sempre que estou
Ora assim
Ora assado.
Sempre que vou
Para outro lugar
Qualquer;
Me afasto
Do presente
Que não sente
Que só mente.

Atrasado
Inconformado.
Enfim adjectivado.
Só porque me afasto
Deste presente
Inevitavelmente apagado.

Às vezes dou por mim
Não em mim
Mas no despertar imposto
Só porque por vezes não estou
Ou não quero acordar.

Sou de carne e osso
E nunca parecendo, provido
do sentir, demasiado.

Entende?
O senhor que abana a cabeça
E finge que nao compreende.
Não entende?

Não faço questão de lho explicar
talvez com analogias do canal panda
ou uma apresentação formal com slides.
Não faço.

Incompreendido?
Talvez não.
Intolerável?
Sem dúvida. Porque não entende
Ou porque não aceita.
Olhe à volta: nem todos têm de ser imbecis.

O efeito de rotação do mundo compreende
Uns quantos milhares de quilometros.
Nunca o perimetro da chouriçada
Que abasta a sua barriga.

Reis na pança, com uma enorme capacidade de atracção
sob corpos celestes à deriva:
Este mundo;
Esta Terra em tempos nativa.

Conta-me como foi

Conta-me como foi
Antes do tempo que fez o tempo,
Este Tempo.
Conta-me o que foi
Que calou a terra e abafou o vento.
Oh tempo oh tempo, volta para trás
Para me contares tu como foi, o que foi
Que deixou as gentes (sem vontade) sem alento,
Com ansia de sofrimento e
Desdenho pelo que apraz.

A velha guarida do sol

A velha guarida do sol
Que mira paredes brancas, caiadas com vida;
A senhora de preto que aguarda o autocarro.
Vai à bica ou ao azeite
Vai por aí, cheia de calma. A viuvez só lhe trouxe o que Deus fez, diz.
Vive até não poder viver mais
E só chora pela saudade, ou pela vontade de ter ido antes;
Não pela morte e nunca pela vida.
As vinhas que podem até nem dar vinho
Dão sombra aos que brincam descalços,
E descalços por aí vão.
Monte acima monte abaixo
No verde que também dita a mente e
Os rios gelados que abraçam as gentes.
E todos os lugares distantes
onde se soube crescer
que talvez ainda existam.