segunda-feira, dezembro 03, 2007

Lágrimas sobre a máquina de escrever
E outras teimosias dos olhos.
Vertem em repetição num tempo só seu
Enclausurando o espaço
A energia
O ar.
O tempo lá fora parou.
Por aqui formam-se borrões em palavras gastas
Acções e reacções.
Vertem-se as gotas, turvam-se as letras e
Os pontos e todas as vírgulas da vida.

O tempo lá fora parou.

O momento é aqui nesta redoma de silêncio.
Tic tac
Parou.
O momento é aqui neste sufrágio pendente.
Tic tac
Parou.

O papel embrulha-se e foge da chuva
Sangra e desfigura-se.
E o som é tão repetitivo
Que as lágrimas não caem,
Transbordam
Em tempestade de verão.

Quando tudo pode ser bom
É o mal que me diz olá.

O tempo lá fora parou.

quarta-feira, novembro 14, 2007

O tempo já passou

Horas, minutos e até fracções.
Todos iguais
exageradamente inócuos.
Passo na rua disfarçado de um ser que não sofre,
que não vive e somente se degrada.
Vou passando ansiando diferente sorte
sem que o tempo ou suas malícias se dignem a sussurrar
enaltecendo uma qualquer sinapse que me faça sentir.

Engulo poções etilenas em porções pequenas
de antídoto para a existência.

Anos, meses e até dias
todos iguais.
Monótonos e fatais.
Incutem-me a mais decidida vontade de
esperar uma só hora para ver
e decidir...
se vale a pena ficar
ou partir.

Décadas, séculos e até milénios...
Novos universos criados.
O tempo deixou de ser meu amigo,
passei por ele e não lhe falei.
O tempo brincou comigo
e eu simplesmente parei...
e não brinquei.

sábado, junho 30, 2007

Eu...

Manter-me-ei fiel enquanto me for possível suportar a visão ao espelho.

terça-feira, junho 26, 2007

Carrossel

Foi só uma sopa primordial
A origem segundo dizem, segundo contaram.
Era o pequeno almoço de mais um dia sangrento.
O inferno resumido ao momento.

Vomitou-se o Homem
depois do seu redor - Comido e cuspido.

O corpo cresceu
A mente apodreceu
De doença, de descrença
De saudade da inocência,
De tanto seres tu ou eu
Ou ele
Ou a segunda pessoa do plural.

Os ossos quebram
A carne sangra e
A mente desfalece.
O jantar está na mesa mas alguém chora lá fora
No alpendre já demolido
Pelos rugidos de lobos intemporais, que somos
Quando já não queremos ser,
Ou andar no carrossel. Enjoa, enoja. Vomita-se o Homem.

As folhas caem no Outono
E hoje, só hoje.
Abatidos todos os seres que o destino ditou
Hoje e enquanto o destino ditar.
Amanhã são vários dias
E talvez o Outono.

As folhas vão pairar
Imóveis face ao cheiro da ditadura;
Do ter de ser, do ter de estar...
Assim.

Tudo vai permanecer
Tudo vai recomeçar.
O antes e o agora
E o depois talvez não queiram ser
Ou estar.

Foi só uma sopa primordial...

(E o resto permanece quase imóvel.
O Tempo faz-nos pequenos, ao hOMEM.)

sábado, junho 09, 2007

Morrer onde não quis ter nascido

Esta forma de estar é desconcertante.
Saberei eu o que é importante?
Viver ou guardar na memória
O calor do que já vivi?
Morrer talvez agora, só se for neste momento
neste auge do meu tormento.

Porque odeio toda a gente
quero amar quem não sei
percorra eu ruas ou galáxias seja
quem me dói ou me desdém.
Porque odeio e não suporto
nem a mim nem a ninguém.

Só eu sei o que não quero saber
Ou prolongar.
Só eu sei que o Passado me foi...
luz
Que o Passado me é
fado.

Tudo fluia e agora pergunto-me:
A que foz fui dar?
Não sei nadar nestas
Águas estagnadas saturadas
Ora quentes ora frias;
Nestes mesmos quatro cantos
Ou mar onde morro e onde não sei
ser salmão, e escapar;
Remar e remar corrente acima
E morrer onde nasci.

Deformado

Deformado
Sempre que estou
Ora assim
Ora assado.
Sempre que vou
Para outro lugar
Qualquer;
Me afasto
Do presente
Que não sente
Que só mente.

Atrasado
Inconformado.
Enfim adjectivado.
Só porque me afasto
Deste presente
Inevitavelmente apagado.

Às vezes dou por mim
Não em mim
Mas no despertar imposto
Só porque por vezes não estou
Ou não quero acordar.

Sou de carne e osso
E nunca parecendo, provido
do sentir, demasiado.

Entende?
O senhor que abana a cabeça
E finge que nao compreende.
Não entende?

Não faço questão de lho explicar
talvez com analogias do canal panda
ou uma apresentação formal com slides.
Não faço.

Incompreendido?
Talvez não.
Intolerável?
Sem dúvida. Porque não entende
Ou porque não aceita.
Olhe à volta: nem todos têm de ser imbecis.

O efeito de rotação do mundo compreende
Uns quantos milhares de quilometros.
Nunca o perimetro da chouriçada
Que abasta a sua barriga.

Reis na pança, com uma enorme capacidade de atracção
sob corpos celestes à deriva:
Este mundo;
Esta Terra em tempos nativa.

Conta-me como foi

Conta-me como foi
Antes do tempo que fez o tempo,
Este Tempo.
Conta-me o que foi
Que calou a terra e abafou o vento.
Oh tempo oh tempo, volta para trás
Para me contares tu como foi, o que foi
Que deixou as gentes (sem vontade) sem alento,
Com ansia de sofrimento e
Desdenho pelo que apraz.

A velha guarida do sol

A velha guarida do sol
Que mira paredes brancas, caiadas com vida;
A senhora de preto que aguarda o autocarro.
Vai à bica ou ao azeite
Vai por aí, cheia de calma. A viuvez só lhe trouxe o que Deus fez, diz.
Vive até não poder viver mais
E só chora pela saudade, ou pela vontade de ter ido antes;
Não pela morte e nunca pela vida.
As vinhas que podem até nem dar vinho
Dão sombra aos que brincam descalços,
E descalços por aí vão.
Monte acima monte abaixo
No verde que também dita a mente e
Os rios gelados que abraçam as gentes.
E todos os lugares distantes
onde se soube crescer
que talvez ainda existam.

quinta-feira, março 15, 2007

Forma de lidar

cigarro e

fumo.

vela que arde e

seu prumo.

tons de querer.

agonia sem

rumo.

esperança e

pouco depois

um corte fundo.

miséria e

maravilha.

a tristeza num

só dia.

copos vazios

consumidos.

invólucros de

necessidade.

já vazios.

consumo.

cigarro e

seu fumo.

arder e

esvaziar.

ser

aprender a estar.

velas e

fumos e

cortes profundos na

alma sem

rumo que quer

aprender a

ser.

a estar.

pouca vida.

inércia sentida.

esvaziar para

mais tarde

encher

e ficar.

inconfundivelmente

conscientemente

propositadamente...

forma de lidar.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Hell

In hell there's no flowers to make you smile,
no tears to make you cry,
no light to make you see,
no knives to make you bleed.
In hell there's no dark to make you sleep,
no bruises to make you remind.
Hell is absence. Hell is here.

F

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Implosao

E o pouco que já tenho
quero diminuir.
Reduzir-me.
Limitar-me atingindo o nulo.
Encurtar.
Absorvo mas tento manter.
Dieta de alma
para nao crescer.
Encolho,
reduzindo.
Impludo, até nao ser.

Janeiro

Pobre podre Janeiro, em vã esperança que oferece.
Sopra vento de mudança, que em fraco fôlego desvanece.
Brisas lacónicas e inócuas, formais. Sem sumo.
Sem novas que incutam rumo.
És falso Janeiro, de ilusão carregado.
Nesta aragem até Fevereiro
há saldos na alma também.

(A esperança empurra mas também pode deitar ao chão.)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Divagar

Divagar é vomitar metaforicamente as necessidades ora de um cérebro saturado, ora dum coraçao inchado.
Equaçao diferencial de uma trombose repentina.
Um eco enorme tao pesado que me trespassa e ultrapassa.
Este estar que somos obrigados a aceitar, obrigaçao mascarada de anestesia.
A trovoada só deixa ouvir os surdos já que o sol nao encadeia os cegos.
Divagar é a minha noçao de estática mental, ao sobrepor
múltiplas realidades em mil folhas que saboreio, digiro e evacuo.
Físico aliviado engana o mental, ignorante estagnado.
Dia após dia, ser após ser
permanece nobre, anfetamina do pobre.
Embora fria nao sacia, contudo.
Paralisante, triste vagueio em círculo, entorpece a alma
em flecha pingada de ressaca por conclusao.
Nao é veneno
É pura divagaçao.